Um mundo plural

Eu não sou uma pessoa séria. Eu não sou uma pessoa que gosta de assuntos realistas e sérios, como política, economia, mercado de trabalho. Eu sou uma pessoa criativa, com imaginação fértil. Eu imagino um mundo perfeito. Sem guerras, sem preconceitos. Por isso eu me decepciono com a realidade. Esse mundo está bem longe de ser perfeito. Existem guerras. Tristeza. Exclusão. Solidão. Por isso, tenho que fazer a minha parte. Todos temos. Não dá pra ficar só na imaginação.

“Lê logo o texto! Parece até que é cego!”

É… o capacitismo! Esse problema está muito presente na nossa sociedade. Está muito presente em nós mesmos, e nem percebemos. Dizer coisas como “tá surdo?” ou “é retardado”, é ser capacitista. Isso é dizer que uma pessoa é inferior a outra só por possuir algum tipo de deficiência ou condição diferenciada. Expressões que falamos e ouvimos no dia a dia, e nem compreendemos. Infelizmente.

Não estou aqui para falar sobre ‘direitos iguais’. Se todos no mundo tivessem direitos iguais, as pessoas com deficiência ainda poderiam ficar para trás. Pois as pessoas não são todas iguais. Não faz sentido tratar todos iguais, se todos são diferentes. Por isso o necessário seria equidade. É dar a cada um o que tem necessidade, é dar suporte. É dar apoios diferentes às pessoas, respeitando suas individualidades.

Quando não respeitamos as diferenças e não damos oportunidade, praticamos uma exclusão. Agimos como se os sentimentos das pessoas com deficiência fossem irrelevantes. Esquecemos da verdade. E a verdade é que somos todos únicos. Cada um é um mundo de particularidades. E todos possuímos sentimentos. Sejam eles expressados ou não. E a primeira regra para entendermos isso é ter respeito. Respeito para sermos capazes de olhar com afeto, valorizar um mundo de particularidades, porém sem rótulos ou restrições.

Lembro de uma vez quando minha mãe me explicou sobre se referir às pessoas com síndrome de Down, como a minha irmã mais nova. Ela explicou que devemos dizer: “possui síndrome de Down”. É errado dizer que a pessoa “é Down.” Porque a minha irmã não é uma síndrome. Ela possui. Mas ela definitivamente não é a síndrome. Ela não pode ser julgada ou desrespeitada por uma das características dela. Ninguém pode. É como excluir alguém por possuir olhos azuis, ou por ter cabelo curto. É apenas uma, de tantas características. Não representa tudo. Ela pode ser quem ou o que ela quiser. Ela é bem mais do que uma síndrome.

As leis, claro, são importantes. Mas nós também precisamos mudar. Mudar nossas opiniões, nossos pontos de vista. Vamos rever nossos conceitos, aceitar, respeitar, incluir.

Somos únicos, com características próprias. Então vamos defender o direito de cada um. Direito de ser do jeito que é. Direito de ser feliz. Vamos defender a diversidade. Vamos fazer acontecer.

Não dá pra ficar só na imaginação.


Luís Gustavo Gris

Luís Gustavo tem 12 anos, é estudante. Aos 4 anos foi diagnosticado com Altas Habilidades/Superdotação.

É irmão da Ana Luísa, que tem síndrome de Down